Como interlúdio, chamemos à baila o paradoxo do condenado, da autoria de Bertrand Russel, matemático, lógico, pensador e Prémio Nobel da Literatura em 1950, inglês, falecido em 1970 com 97 anos de idade.
Em tempos que já lá vão, num reino em que estava instituída a pena de morte, o seu rei, todo poderoso, condenou determinada pessoa à morte, por enforcamento.
Para tal, foram colocadas duas forcas em duas plataformas, chamando a uma "Altar da Verdade" e à outra, "Altar da Mentira".
Uma regra havia que foi explicada ao condenado momentos ante da execução:
- Terás oportunidade de dizer as tuas últimas palavras, como é habitual. Se o que disseres fôr verdade, serás executado naquele altar, o da verdade. Se fôr mentira naquele outro, o da mentira. A decisão é tua.
Aqui para nós, parece que o interessado, se é que algum interesse poderia ter na sua própria execução, não tinha safa.
Porém, após pensar um bocado, o condenado disse estar perfeitamente de acordo e preparado para dizer as suas últimas palavras.
Fez-se silêncio e todos os presentes, que na altura eram muitos e curiosos em assistirem àquele espectáculo macabro, se prepararam para o ouvir.
E disse então:
- Vós ireis enforcar-me no Altar da Mentira.
Os carrascos para lá o conduziram e, quando já lhe tinham posto a corda no pescoço, um deles parou e disse:
- Alto! Não o podemos enforcar aqui, porque se o fizéssemos as suas últimas palavras teriam sido verdadeiras e no cumprimento da regra, dissemos-lhe que seria enforcado em consonância com elas.
- Claro, devemos enforcá-lo no Altar da Verdade, concluiu um outro.
Conduziram-no então para o Altar da Verdade e, já com a corda novamente na garganta, uma voz soou da assistência:
- É falso! Também aqui não o podem enforcar porque então as suas últimas palavras teriam sido mentira e, de acordo com a regra, no Altar da Verdade só pode ser enforcado quem tenha dito uma verdade.
Confusos, os verdugos envolveram-se em eterna discussão, o réu escapou e, se ainda hoje fosse vivo, decerto estaria a escrever livros de lógica.
Quem quer ajudar os frustrados carrascos na sua discussão?