DIVAGAÇÕES

quinta-feira, setembro 23, 2021

Acto defenitivo

 - Agora feche-a … se puder!

 Ainda o estou a ver: pequena estatura, entroncado, com grande e retorcido bigode, sempre acompanhado do seu inseparável cajado que não era apenas figura decorativa quando calhava, o que não era raro.

Recordo ter falado uma vez com ele, na Fonte, onde as traseiras da casa dos meus avós pegava com as traseiras da do caseiro de uma das suas propriedades.

Eu teria à volta de 7 ou 8 anos. Perguntou-me quem eu era e ao dizer-lhe que era neto do sr. Zé Nunes, res-pondeu-me saber perfeitamente quem ele era, até era seu amigo, portanto eu devia ser um bom rapaz.

Não me compete avaliar se ele teve ou não razão, mas continuemos.

De tudo o que se segue não fui testemunha presencial, nem poderia ser dada a diferença de idades. O meu conhecimento advêm da tradição oral, onde a sabedoria popular diz que quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto. Seja como fôr, lá vai.

Proprietário de muitos terrenos na região, recordo ter ouvido dizer que se tinha licenciado em Direito, mas que nunca tinha exercido a profissão de causídico.

Nunca lhe soube o nome, como a maioria das pessoas que o conheciam; era conhecido pelo Dr. da Torre, nome de uma das suas propriedades entre o Montinho da Aroeira e Vila Nova de Cacela, aqui mais conhecida por Venda Nova.

Personalidade um tanto excêntrica, certamente de nascença, mas cultivada pelo próprio, assim era considerado pela população das redondezas. O seu estatuto de grande proprietário e empregador de trabalhadores rurais cuja riqueza se resumia à força braçal, dava-lhe esse “direito”.

Contavam-se dele algumas bravatas, onde quase sempre o cajado era actor não secundário.

Numa dessas vezes, o cajado de um seu guardador de cabras, o Ti-Manel-Zé da Azeda, não foi inferior ao seu, pelo que desta vez as suas pernas tiveram um papel importante na finalização da contenda. Parece que o assalariado não perdeu o emprego. Fez-se justiça!

Doutra dessas bravatas, aqui vai o relato.

Na época não havia por aqui muitos automóveis e o senhor, não tendo nenhum, utilizava nas suas frequentes deslocações as camionetas da carreira.

Num belo dia, um dia chuvoso de Inverno, embarcou na camioneta do “Pilar”, empresa que desapareceu no tempo como rio no deserto e sentou-se ao lado de outro passageiro que, dada a temperatura exterior mantinha o vidro da janela subido.

O nosso homem, permitindo-me referir-me desta forma plebeia a tão ilustre cidadão, alardeando a sua saudável saúde, constituição física e auto-condição social, sem descer a qualquer troca de palavras com o companheiro de banco, desceu o vidro da janela. O outro, retorquindo na mesma moeda, também sem qualquer palavra, voltou a subi-lo.

E assim, várias vezes se repetiu em silêncio e sem qualquer discussão o sobe e desce do vidro. Então o “Senhor”, vendo perpetuar-se a questão, agarrando no seu fiel e companheiro de sempre, o cajado, desferiu um golpe certeiro no vidro que, sem qualquer culpa nem intervenção na contenda, se fez em mil bocados.

Perante a estupefacção do seu companheiro de viagem, virando-se ostensivamente para ele e acentuando calmamente as palavras, em alto e bom som, saboreando a vitória, à laia de conclusão sem hipótese de contra argumento, disparou-lhe:

- Agora feche-a … se puder!

VRSA, Setembro de 2021

quarta-feira, setembro 22, 2021

Resposta

 ... porque não gostam de problemas.

domingo, setembro 19, 2021

Mistério

 Esta é infantil e ingénua, própria do ainda tempo de Verão:

Porque é que os miúdos calmos e bem comportados não gostam da matemática?