DIVAGAÇÕES

segunda-feira, novembro 15, 2021

António Aleixo, o grande poeta popular

Todos conhecerão o enorme poeta repentista e popular que foi o Aleixo, uns mais outros menos.

Teve uma vida difícil: doente dos pulmões, econòmicamente rondando a miséria, com uma casa cheia de bocas para alimentar, mulher e muitos filhos.

A este respeito dizia ele:

Fui polícia, fui soldado,

Estive fora da Nação,

Vendo jogo, guardei gado,

Só me falta ser ladrão.

Ainda conheci, no liceu de Faro, o Dr. Magalhães, pessoa que muito o ajudou durante toda a sua vida e que recolhia os versos que o Aleixo expontâneamente dizia quando e onde calhava ou para isso era instado: nas feiras, na rua, na sua actividade de cauteleiro.

O próprio Aleixo, quase analfabeto, dizia:

Não há nenhum milionário

que seja feliz como eu

tenho como secretário

um professor do liceu.

Tenho todo os livros dele que, com a ajuda do Dr. Magalhães, o filho do Aleixo publicou.

Os seus versos, de uma oportunidade, perspicácia, inteligência, profundidade e humanidade espantosas, já li não sei quantas vezes.

Mas uma quadra há que nunca tinha visto e que vem referida no livro de Neto Gomes, publicado pelo município de Vila Real de Santo António sobre o "Zé Aranha", outro algarvio popular, também vila-realense:  

Dos seus antepassados

Ele tem retratos na sala,

Mas da puta que o pariu

Nem tem retratos nem fala...

2 comentários:

Luís Alves de Fraga disse...

Não é a instrução, nem o berço, nem a convivência que proporcionam a inteligência e, acima de tudo, a sensibilidade e António Aleixo, sendo quase analfabeto, tinha essas duas qualidades que sabia traduzir em quadras simples na linguagem simples da gente do povo. Foram a sensibilidade, a inteligência e o sentido da oportunidade que o tornaram um poeta que tanto é compreendido pelos populares como pelos intelectuais capazes de ter a modéstia de conceder-lhe a justiça de ser Grande.
Obrigado e, não há dúvida, a última quadra é divinal.

José Cruz disse...

Divinal sim, excepto para o visado, que com toda a certeza não deve ter gostado nada do dito e que o deve ter merecido, porque mal educado o Aleixo não consta que fosse.