Todos conhecerão o enorme poeta repentista e popular que foi o Aleixo, uns
mais outros menos.
Teve uma vida difícil: doente dos pulmões, econòmicamente rondando a
miséria, com uma casa cheia de bocas para alimentar, mulher e muitos filhos.
A este respeito dizia ele:
Fui polícia, fui soldado,
Estive fora da Nação,
Vendo jogo, guardei gado,
Só me falta ser ladrão.
Ainda conheci, no liceu de Faro, o Dr. Magalhães, pessoa que muito o ajudou
durante toda a sua vida e que recolhia os versos que o Aleixo expontâneamente
dizia quando e onde calhava ou para isso era instado: nas feiras, na rua, na
sua actividade de cauteleiro.
O próprio Aleixo, quase analfabeto, dizia:
Não há nenhum milionário
que seja feliz como eu
tenho como secretário
um professor do liceu.
Tenho todo os livros dele que, com a ajuda do Dr. Magalhães, o filho do
Aleixo publicou.
Os seus versos, de uma oportunidade, perspicácia, inteligência,
profundidade e humanidade espantosas, já li não sei quantas vezes.
Mas uma quadra há que nunca tinha visto e que vem referida no livro de Neto
Gomes, publicado pelo município de Vila Real de Santo António sobre o "Zé
Aranha", outro algarvio popular, também vila-realense:
Dos seus antepassados
Ele tem retratos na sala,
Mas da puta que o pariu
Nem tem retratos nem fala...
2 comentários:
Não é a instrução, nem o berço, nem a convivência que proporcionam a inteligência e, acima de tudo, a sensibilidade e António Aleixo, sendo quase analfabeto, tinha essas duas qualidades que sabia traduzir em quadras simples na linguagem simples da gente do povo. Foram a sensibilidade, a inteligência e o sentido da oportunidade que o tornaram um poeta que tanto é compreendido pelos populares como pelos intelectuais capazes de ter a modéstia de conceder-lhe a justiça de ser Grande.
Obrigado e, não há dúvida, a última quadra é divinal.
Divinal sim, excepto para o visado, que com toda a certeza não deve ter gostado nada do dito e que o deve ter merecido, porque mal educado o Aleixo não consta que fosse.
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